Creme Mel compra rival do Nordeste

creme melÉ como Seu Toninho que Antonio Benedito dos Santos, fundador da fabricante de sorvetes Creme Mel, gosta de ser chamado. Sua fábrica em Goiânia, com capacidade para produzir 35 mil picolés por hora, tem 1 mil funcionários nas linhas de produção, escritórios e centros de distribuição, mas começou com uma máquina pequena, “bem velha”, quatro carrinhos de picolé e um freezer instalados na garagem do ex-motorista de ônibus.
Quase trinta anos depois de produzir seu primeiro picolé, a Creme Mel acaba de tornar-se a maior fabricante de sorvetes de capital nacional do país, ao adquirir a Zeca’s, de Recife. O valor não foi revelado, mas o negócio vai abrir as portas de oito Estados do Nordeste à fabricante goiana, presente nas regiões Centro-Oeste, Norte e Sudeste.
A Creme Mel faturou R$ 200 milhões em 2014 e a Zeca’s, R$ 100 milhões. Juntas, as companhias esperam crescimento de 25% neste ano. Os investimentos devem somar R$ 20 milhões até dezembro, divididos entre a compra de equipamentos, máquinas e ajustes de gestão. A empresa combinada venderá para 17 Estados.
Mais de 65% do mercado brasileiro de sorvetes está pulverizado entre empresas regionais. A multinacional anglo-holandesa Unilever, dona da marca Kibon, é líder no mercado com participação de 21%, segundo dados de 2014 da consultoria Euromonitor. A suíça Nestlé fica em segundo lugar, com 7,2%. Antes da fusão, a Creme Mel ocupava a quinta colocação, com uma fatia de 1,3%, depois da americana General Mills (1,9%), dona da marca Häagen-Dazs, e da paulista Jundiá (1,3%).
O mercado de sorvetes movimentou R$ 13,4 bilhões em 2014. Entre 2003 e 2014, o consumo teve aumento de 90,5%, para 1,305 bilhão de litros por ano, segundo a Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes (Abis), mas a relação per capita ainda é baixa. Em 2014, correspondia a 6,43 litros por pessoa, ante 30 litros nos Estados Unidos.
Na década de 1980, Santos passava as noites ao volante dos ônibus da Transbrasiliana pensando em abrir seu próprio negócio. Em 1987, pediu demissão e utilizou os recursos do fundo de garantia para fundar a Creme Mel. Com pouca experiência, avançava de forma intuitiva. Foi um ano depois, ao ser convidado para um curso profissionalizante em Campinas, oferecido por uma empresa fornecedora de matéria-prima para sorvetes, que começou a desenhar o negócio de forma mais profissional. Da viagem, feita de ônibus, trouxe matérias-primas e a ideia para aprimorar a qualidade com frutas frescas. “Fiz o sorvete e ficou uma delícia. Percebi que já podia colocar um nome, criar a minha marca, e zelar por ela.”
Os cursos se sucederam, cada ano em uma cidade diferente, como São Carlos (SP) ou Jaraguá do Sul (SC). Em 1994, Santos fez a primeira viagem à Itália e não parou mais. Os certificados sobre as paredes decoram seu escritório. O sorvete caiu do gosto dos goianos e a empresa começou sua expansão.
Em 1996, Santos comprou o prédio da atual fábrica, com um investimento de R$ 1 milhão, de um financiamento. No mesmo ano, começou a investir na compra de leite de vaca jersey, cujo teor de proteínas e gordura é mais apropriado para a produção de derivados como o sorvete.
Na busca de fornecedores, seu caminho se cruzou com o do ex-patrão Odilon Santos, da empresa de transportes. “Eu o convenci a comprar uma fazenda próxima à dele, que estava à venda, e ele passou a ser nosso fornecedor de leite.” Odilon foi chamado para ser sócio em 2003 e ficou com metade da empresa.
Em 2013, a gestora americana H.I.G, com mais de US$ 17 bilhões em capital administrado no mundo, entrou na Creme Mel com uma participação minoritária. Os sócios Antonio Benedito dos Santos e o Grupo Odilon Santos permanecem no controle do negócio.
A Zeca’s é a décima aquisição de que a H.I.G. participa no Brasil desde o início de suas operações aqui, em 2012. Para Fernando Marques Oliveira, presidente da H.I.G. no Brasil e na América Latina, o negócio permitirá manter um forte ritmo de crescimento e abrir caminho para a expansão a todo o país.
Paulo Roberto, antigo dono da Zeca’s, é amigo de Santos. “Não queria mexer no mercado dele [Nordeste], mas sempre tive a ideia de um dia unir as duas marcas”, conta Santos. A proposta inicial de fusão terminou como compra. “O Paulo tinha outros planos, mas deixou uma empresa muito bem administrada.”
Santos é presidente da Creme Mel. A filha mais velha, Ellen, formada em administração de empresas, cuida do departamento de marketing e, Thais, engenheira de alimentos, é gerente de qualidade. A esposa, que o ajudou nos primeiros anos da fábrica, agora prefere paparicar os netos.

Fonte: Valor Econômico

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